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Colegas que triagem é essa?

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Colegas que triagem é essa?

Sinopse

As reflexões que aqui faço surgiram a partir de minhas experiências, em serviço de triagem em hospital psiquiátrico, da rede pública em do meu estado. Trabalho este realizado por equipe multiprofissional de nível superior composta por Medico, Psicólogo, Assistente Social e Enfermeiro. Alem do pessoal de apoio é óbvio. Porem neste momento fazer uma reflexão sobre a tentativa da inserção da Psicanálise na instituição em que tive a oportunidade de fazer parte.

Psiquiatria e Psicanálise

Tradicionalmente a relação da Psicanálise com a Psiquiatria é uma questão problemática. É comum psiquiatras aliviarem os sintomas dos seus pacientes em urgências através de intervenções medicamentosas imediatas. Reforçadas costumeiramente por pacientes e familiares. Enquanto os Psicanalistas não concordam na maioria das vezes. Pois para estes seria mais provável e fundamental a escuta do paciente, seu conteúdo delirante, sinais sintomas relacionados à sua enfermidade. Creio que este paradigma ora da cultura médica oura da cultura psicanalítica possivelmente sempre vai existir (não por conta da medicina ou da Psicanálise em si) mais devido algumas pessoas que insistem em radicalizar suas decisões, movidos simplesmente ao que parece, por sentimentos de puder e decisão. Fazendo prevalecer sua vontade e seus interesses. Ainda que seja em detrimento a ciência ao paciente e aos colegas de profissão.

Reflexão

Observei que alguns colegas com boas intenções mais despreparados ou mesmo influenciados por idéias Psicanalíticas tradicionais, coisas do pretérito, acabaram por negligenciar o respeito ao trabalho de outros colegas que utilizam outras linhas Terapêuticas. Simplesmente fiquei indignado quando tive que abandonar o serviço de triagem em minha instituição. Pois não me restava outra opção, senão esta, uma vez que não concordei em participar de uma supervisão específica com estudos e abordagem psicanalítica voltada especificamente para a abordagem Lacaniana. Idéia absurda criada com o propósito de se instituir e inserir a abordagem Psicanalítica no serviço de triagem daquela instituição. Absurda não por conta da abordagem Psicanalítica, mais por conta da idéia seletiva unilateral. Quando ressalto que alguns colegas, com boas intenções, mais despreparados acabaram por negligenciar os méritos de outros colegas que trabalham em outras linhas terapêuticas, me refiro aqui a despreparados não por sua qualificação técnica profissional. Mais com certeza por não terem questionado com outros colegas sobre aquela decisão de cúpula. O próprio Lacam defendeu o retorno a Freud e também as origens da Psicanálise, no entanto questionava já naquela época os diversos padrões rígidos da técnica Psicanalítica. Esse questionamento de Lacam causou grandes desacordos entre os Psicanalistas daquela época e que com certeza deveria ser bem entendido por Psicanalistas Contemporâneos. Tradicionalmente os Psicanalistas são seletivos resistentes e põe a limbo qualquer coisa que não seja cunho hermético a psicanálise. Passaram-se o tempo vieram às mudanças, novos enfoques terapia breve terapia focal, experiência corretiva emocional... Mais estas coisas continuam acontecendo não se sabe exatamente, o por quê?

 Privilégio

Nada tem contra qualquer abordagem, mais entendo que nenhum trabalho pode lograr êxito sempre que o diálogo e o entendimento forem impedidos. Porque então o privilégio para possíveis Psicanalistas ou para aqueles que trabalham com psicanálise e se dizem mestres. Ora alguém pode ser tudo isto, e muito mais. Isto não lhe dá o direito de sobre pôr seu trabalho em detrimento aos de outros colegas e da própria instituição e seus usurários. Com certeza, apesar da psicopatologia, deve existir um lugar para a psicanálise, mais esse lugar não é e não deve ser conquistado desta forma.

Profissional e Instituição

Todo profissional que trabalha em instituição pública está sujeito às normas estabelecidas nesta instituição e desta forma têm que adaptar seu trabalho a essas normas. No entanto essas normas que também refletem o poder de quem mandam e tomam decisões não significa que seja de tudo correta. Que tenha que ser cumprida a risca, sem questionamento, fundamentado na maior expressão do pensamento dominante “Manda quem tenha poder e obedece quem tem juízo”. Quando isto acontece com certeza nada vai dá certo, pois se encontra em desacordo com o funcionamento de todo e qualquer sistema, uma vez que como se trata de seres humanos,surgem os descontentamentos, os comentários que passam influenciar de forma negativa, (não como equilibrio do sistema), mais como desestabilizador  do mesmo. É para isso que existe o diálogo. Pois as coisas e os conceitos mudam com o tempo e sabiamente tendem a corrigir os erros. E esta correção provavelmente só será possível com o diálogo multiprofissional em busca de melhores decisões.

Dialogo

Quando ressalto uma decisão com base no diálogo multiprofissional não estou me referindo somente a reuniões de coordenadores ou simplesmente de partes interessadas em abrir campo aos seus projetos e seus interesses. Aqui me refiro a uma decisão de base através de opiniões emanadas de todas as categorias e não só de coordenadores, mais também de outros profissionais que pertencem a questão.

Sistema

Pois todo sistema é formado por subsistemas,neste caso (os diversos setores) que apesar de sua individualidade e suas características individuais [categorias profissionais (subsistemas)] e cada profissional com sua linha subsistemas que também se fragmentam. Enfim todos são subordinados ao conjunto e esse conjunto é a instituição funcionando de forma integrada. E por esse motivo apesar da dificuldade as coisas têm que acontecer assim integrada, com as partes a fim de que a tendência a desorganização seja atenuada. E seguida na parte Realimentação faço minhas reflexões com base nas experiência vivida naquele serviço.

Realimentação
Poderia enumerar um numero muito grande de irregularidades na funcionalidade desse serviço. Porem vou apenas relatar alguns mais relevantes. De inicio a triagem é realizada em instituição publica que não oferece estrutura adequada para este fim. O profissional, não dispõe de um local adequado para realização de suas atividades. Se poderia questionar que existe uma sala apropriada, mais na verdade esta sala apenas oferece condições para um atendimento clinico individual. Por outro lado nada oferece para que esse trabalho seja adequado, sala não climatizada falta de material para registro e privacidade da intimidade do paciente. Sabe-se que o trabalho psicanalítico, quanto à verbalização do paciente,as anotações são postas da forma que o paciente narra,ficando, portanto o registro em prontuários de toda historia do paciente, o relato do seu sofrimento psíquico. Este material fica exposto podendo ser facilmente acessado por qualquer pessoa da instituição que trabalhe naquele setor. E desta forma fica claramente negligenciado a questão ética no que diz respeito à privacidade do paciente, embora o atendimento tenha sido realizado de forma individual. Em outras palavras é como se alguém me confidenciasse alguma coisa em particular e depois eu passasse a comentar com algumas pessoas o que me foi confidenciado. O que fazer para que isto não aconteça? É muito simples com o dialogo sempre se encontra uma solução. E a solução mais óbvia é o respeito à ética, que nem o dialogo ou qualquer poder de persuasão seria capaz de negligenciá-lo. Em outras oportunidades observei severas discussões entre médicos e psicólogos, e outros profissionais não respectivamente, devido à inadequação de atitudes destes, que muitas vezes interferiam em procedimentos, que não são de sua competência. Assim cheguei a observar em alguns momentos alguns colegas de trabalho, interferir no trabalho medico, em uma dada prescrição, muitas vezes querendo impedir que tal procedimento fosse realizado. Em outro momento um medico chegou a proibir que um técnico que trabalha na linha psicanalítica, continuasse atendendo um dos seus pacientes, afirmando que todas as vezes que o atendimento era realizado, o paciente entrava em surto, que em outras palavras quer significa dizer: "descompensava.” Como sabemos nenhum profissional mesmo com suas especialidades e seus saberes, deve tomar decisões que venham a desestabilizar um trabalho que, como o próprio nome sugere "triagem".O obvio é que se o trabalho é realizado em equipe,onde as ações são integradas, as decisões também devem ser tomadas em consenso. Outras vezes a equipe não sabia exatamente como seriam os passos a serem seguidos pelo usuário durante o atendimento. Alguns momentos havia discussão acirrada, sobre a condição do paciente. Se o mesmo deveria permanecer ou não em observação no leito da triagem, ou se teria que ser encaminhado para o pavilhão. Por diversas vezes havia mudança nas normas, coisa normal em qualquer instituição, pois em seu funcionamento estão a se ajustar, coisas da realimentação, cujo efeito e o auto-ajustamento para sobrevivência do mesmo. Mais quando as ações estão sempre  alternando de forma em que não produz nenhuma correção, neste caso, não existe nenhuma realimentação, e consequentemente nenhum aperfeiçoamento na qualidade do serviço. Se poderia perguntar porque nesta parte do texto, utilizei o termo realimentação. Pois bem utilizei este termo, com o propósito de deixar claro que minhas reflexões, sobre a minha vivência naquele serviço, serviram não só como experiência profissional, mais também como experiência de aprendizado (realimentação) sobre os processos de formação de sistemas, com suas partes os subsistemas que por sua vez também se fragmentam.

Assim; Instituição, (sistema) formado por categorias profissionais (subsistemas) e suas especialidades que por sua vez são também fragmentados. Aqui neste caso não convêm levar em consideração o fluxograma da instituição, embora o mesmo esteja intimamente relacionado. Desta forma observei na pratica que a teoria dos sistemas e da informação (resposta) e a entropia não são apenas termos de uma terminologia dos fenômenos Cibernéticos de auto regulação. Talvez agora depois desta modesta reflexão, o leitor também faça a suas reflexões, e se não tem familiaridade com sistemas cibernéticos, passe a se interessar pelo assunto.

Comentário
 Diante de todo esse aparato a respeito de decisões em conjunto. Tenho como intenção, apenas comentar que na minha experiência como profissional do corpo de triagem naquela instituição foi extremamente gratificante, até o momento em que surgiu essa idéia de discriminar outros colegas entre os quais estava inserido. Ora devíamos participar de uma supervisão em Psicanálise para que pudéssemos participar do corpo de profissionais daquele serviço. E como não aceitei tive que abandoná-lo. Fiquei alienado ao serviço, não porque não me integrei ao grupo. Mais exatamente porque deixei de fazer parte de um todo (não no que se refere à instituição) mais sim, no que se refere à integração do meu trabalho como profissional.  Só porque utilizo outra linha terapêutica e não aquela que gestores e coordenadores decidiram implantar a Psicanálise. Hoje já não existe nem Vestígio. O fracasso daquele empreendimento não se deu com certeza porque se tratava de uma abordagem psicanalista. Pois a mesma é reconhecida como uma abordagem comprovadamente eficaz, quando utilizadas por profissionais especializados e em local adequado. Assim como acontece com qualquer outra linha terapêutica. De acordo com a teoria dos sistemas a entropia acaba desestabilizando desorganizando qualquer sistema que não esteja devidamente equilibrado entre o que entra e o que sai (informação resposta) realimentação positivas e negativas. Este provavelmente foi à causa do não estabelecimento daquele serviço. Pois só contrariando esse principio um sistema se desorganiza e se torna ineficaz. Quando seu funcionamento é fragmentado (no sentido de distanciado) de um todo que lhe poderia fornecer constantemente informações (input output) uma realimentação (positiva ou negativa) assegurando ao mesmo um equilíbrio em seu funcionamento. Então prevalecera a entropia que é uma tendência à desorganização do sistema. Como sobreviverá então um sistema, que existe exatamente por contas dos subsistemas, que se integram (informações-resposta) uma vez que o mesmo encontra-se desligado. a fragmentação apesar de ser essência do conteúdo de todo e qualquer sistema essa fragmentação, portanto e caracterizada pelo subsistema em si neste caso, (categorias profissionais) que por vez sua vez também é fragmentada [linhas terapêuticas,(especialidades)] e essa característica do conteúdo do sistema é essencial ao seu funcionamento.E não fragmentação nos sentido do distanciamento e da inoperância.Mais sim, no sentido em que, se essa fragmentação, [linhas terapêuticas (especialidades).]  se encontram desligadas é necessário que  se faça a correção para que o sistema se restabeleça.

"O homem pela natureza ilimitada da mente humana, onde quer que esta refocile na ignorância,erige-se a si próprio como regra do universo" Vico (1668-1744)

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